Aniversário da Biblioteca DeRose

08-06-2017 17:19

“Sem biblioteca, os livros morrem e desaparecem; ao contrário, com e na biblioteca, eles renascem e se transformam em vida, em vontade de poder.” Nietzsche

Quando a tradição era transmitida oralmente, da boca ao ouvido, e preservada pela memória chamavam-lhe de shruti – “aquilo que é ouvido” pelos rishis, videntes ou sábios, que via canal intuicional recebiam e perpetuavam assim a transmissão do conhecimento. Desta época contam-se os Veda, os quatro hinos do Hinduísmo. Numa fase posterior a literatura designa-se de smriti, “aquilo que é lembrado” e o conhecimento passa a ser preservado através da escrita. O Yôga, metodologia estritamente prática que conduz ao samadhi, faz parte das duas épocas, tal é a sua importância e antiguidade para a cultura Hindu que sempre se preocupou em preservar os ensinamentos do Yôga. E isto desde os tempos imemoriais em que não existia papel, livros, bibliotecas ou tablets tal como hoje conhecemos, que nos permitem com um simples “save” e “send”, guardar por tempos indefinidos ou partilhar toda a informação, quer seja a curta ou longa distância, sem limitações de espaço ou de tempo.
Tempos houve em que a informação e o conhecimento não estavam acessíveis a todos mas o Homem, fosse em tijolos de barro, argila ou pedra, papiro ou pergaminho, nas bibliotecas publicas, nos conventos ou palácios do rei, nas universidades ou por interesse privado foi catalogando, reproduzindo, traduzindo e guardando as ciências, os saberes, os pensamentos, a erudição, a tradição, a sapiência para que não se perdesse ao longo da historia ou fosse destruída, como aconteceu tantas vezes. E eis-nos a 27 de Maio de 2017, numa tarde de sábado no nosso muito querido e estimado Espaço Cultural Ashram - Pashupati a comemorar o 5º Aniversário da Biblioteca DeRose, uma biblioteca especializada em Yôga com um acervo de mais de 900 livros sobre o tema. E não deve haver forma mais nobre de a celebrar do que com o lançamento do livro Voltar a ser um homem inteiro, do autor Pedro Marques, também ele, praticante de SwáSthya Yôga. Ao centro da sala a mesa expunha alguns dos livros, poucos, apenas uma amostra do acervo da Biblioteca ao redor da qual se dispuseram os convidados, amigos e praticantes que assim presentearam com a sua comparência este momento tão importante na actividade do nosso Ashram. A Prof.ª Anabela Duarte da Silva deu as boas vindas e a Instrutora Ana Fina, directora da Biblioteca DeRose, apresentou a mesma, a sua finalidade e descreveu alguns dos seus livros. A Biblioteca sempre me impressionou pelo vasto volume de obras mas sobretudo, pelo conteúdo dos mesmos, alguns são livros raríssimos e de avultado preço, que nós alunos do Ashram e outros, a pedido, podemos consultar e com eles aumentar nossos conhecimentos. Que ferramenta tão preciosa dispomos no nosso caminho para o auto-conhecimento. Nessa sequência, seguiu-se a Conferência do nosso Guruji João Camacho sobre “Yôga – um caminho para o auto-conhecimento”, precedido do recital do Coral Rajas Agni. Depois de um intervalo, onde degustámos um belíssimo chá branco, suavemente perfumado e de sabor agradável que combinou com os biscoitos que a nossa querida sádhaka Rita Fernandes providenciou e com os raios de sol que a essa hora resolveram espreitar. E porque Yôga é prática, tivemos também demonstrações de coreografia de ásana e mudrá, pela Instrutora Paula Santana, pela graduada Tânia Ferreira e por mim. Tivemos ainda a inauguração da exposição de Fotografia de Ásana, pela Prof.ª Anabela Duarte da Silva que parafraseando um texto do nosso querido Mestre João Camacho ensina que “através do ásana, nós vamos descobrindo esse desconhecido que é o nosso corpo e a sua potência se abre à nossa consciência. Associar-lhe-emos o mudrá e o pránáyáma, como caminhos de aprofundamento da consciência do corpo.”
E de corpo falou também Pedro Marques e o seu livro, de certo modo uma autobiografia, indo além disso, um verdadeiro testemunho de coragem, de auto-superação, de tapas levado a cabo após um AVC, situação limite que o fez perspectivar a sua vida tomando consciência dos seus limites, das suas fragilidades e finitude mas também da sua vontade e da sua força interior. E das suas forças exteriores, a sua família. E foi mesmo Ju, a esposa, a mulher que tem conduzido e orientado, qual acção transformadora, quem nos apresentou o livro e o tema que ele aborda, o caminho de auto conhecimento e superação de um homem que almeja voltar a ser um homem inteiro. Caminho esse nada simples e por vezes moroso ”com avanços e recuos, altos e baixos, envolvidos por motivações e desmotivações que se entrelaçam e se envolvem numa continuidade incerta, que por vezes compromete os resultados finais” como se pode ler no prefácio. A comprová-lo ouviram-se as palavras da querida Prof.ª Anabela, que descreve o aluno Pedro como o praticante que não desiste perante a adversidade, mesmo quando lhe falta o equilíbrio, possuidor de um querer maior que o próprio e cuja evolução é notória. Talvez por isso Pedro tenha chegado ao Yôga, onde não há “deficientes”, onde não importa o que motiva cada um, onde o caminho exige disciplina, exige trabalho interior, um esforço constante sobre o corpo, as emoções, sobre a nossa mente, sem se inquietar com o que cada um de nós foi, mas aprimorando, boleando em fogo ígneo em direcção à consciência expandida, aquilo que um dia seremos.

Grata por testemunhar esta história com esta egrégora fantástica, termino citando uma vez mais Nietzsche
“O livro da biblioteca deixa de sonhar em vencer a morte. Pelo contrário, com sua própria presença, o livro evoca e acolhe a morte como um pressuposto da constante renovação da vida.”
SwáSthya

Ana Marisa Rebotim, graduada
Discípula do Mestre João Camacho

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